quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Música e aprendizagem

Larissa Ovando Lopes 06/02/2010


RESUMO

O foco principal deste trabalho foi identificar em quais dos aspectos humanos a música poderia influenciar, potencializar e ou desenvolver. A pesquisa identificou desde os aspectos cognitivos, até os de coordenação motora, autoestima, etc. Dividi as áreas do conhecimento para poder explicar mais detalhadamente cada uma delas.
                                                                                                                                                                                                                        
Palavras-chave: Música, desenvolvimento, educação.


1 INTRODUÇÃO

Música e aprendizagem é certamente um tema bastante extenso, até mesmo muito mais do que nós do grupo imaginávamos, e é de grande relevância não apenas para a própria prática pedagogia como para o desenvolvimento integral da criança. A música na infância trás inúmeros benefícios.
O próprio PCN preocupa-se com a inclusão do tema, pois considera que há importância na formação da inteligência musical, demonstrando preocupação com a inclusão da música como ferramenta para a aprendizagem, como o ensino da música com a música e ressalta que a utilização da música para a aprendizagem é fundamental na formação dos cidadãos.
O alvo principal de nossa pesquisa foi saber qual a real importância do tema para a prática docente, e como aplicá-la na rotina escolar. Percebemos que a musicalização já se inicia no lar, através dos estímulos que os pais oferecem, sejam instrumentos musicais, instrumentos sonoros, discos, canções, jingles, etc. Na escola será realizado o direcionamento deste interesse para o desenvolvimento (da criatividade, coordenação motora, lateralidade lógica, etc.) e a sistematização de tudo isso.
Crianças que crescem ouvindo, cantando e dançando, estão desfrutando do que os cientistas chamam de riqueza sensorial, esta criança está absorvendo mais do que apenas diversão, está desenvolvendo seu lado intelectual. E as crianças que já tinham uma ligação com a música antes de irem para a escola respondem muito melhor aos estímulos musicais implícitos pelas professoras.
A música é utilizada em vários momentos da rotina escolar: na hora da roda da música, momento de conversar, esclarecer mal- entendidos, aprender e apresentar coisas novas, na hora da merenda, e em vários outros momentos, mas o objetivo dessas canções para as professoras é ensinar conteúdos, hábitos ou valores, para acalmar ou estimular. 

2 A MÚSICA

O desenvolvimento musical da criança não ocorre por si mesmo, mas através de atividades musicais, onde ocorrem as trocas de aprendizagem. A prática educativa associada à linguagem musical apresenta maior significação para o desenvolvimento da cognição e interação entre as crianças.
A música, especificamente estimula o aprendizado e tem o poder de despertar a criatividade, auxilia no desenvolvimento de suas potencialidades, e podemos dizer que auxilia no desenvolvimento total da criança, pois influencia desde raciocínio lógico e matemático, até afetividade, ética e estética, a música entra em todas as áreas da vida e do desenvolvimento humano e tem influencia relevante à educação e ao aprendizado. Com base neste raciocínio, a música deve ser explorada de todas as formas, por inteiro, desde a sonoridade até a letra. Isso não facilita o processo de educar a acriança, pois desenvolve seu senso crítico, e ela passa a ter uma visão inteira, completa da realidade. A música traduz muita coisa, ela é carregada de emoção, e não de razão.
Em No som da Música... O Tom da Aprendizagem..., Érica Gomes Pontes, ela coloca os seres humanos como seres essencialmente musicais, segundo a autora, a música diz o indizível, traduz o enigma. Labirinto oculto no qual a própria psicologia se debruça na tentativa de clarificar. E propõe uma questão. Afinal, não é esta o anseio da ciência psicológica, dar voz, som e cor ao mistério humano? E não é mesmo? A música é muito mais do que mera diversão e entretenimento, ela molda e revela o mais íntimo do ser humano, e por esse motivo devemos ter muito consciência do que estamos passando para as crianças, pois neste contexto o fazer musical está resinificando a educação.
Ao vasculharmos a história das civilizações, encontrarmos, em todos os povos antigos, independentemente de traços culturais, a priorização da música enquanto instrumento de expressão de sentimentos e ensinamentos. Já haviam descoberto o mágico poder contido nas estrofes de uma canção.
Canta-se para velar os mortos, e canta-se para celebrar uma nova vida. Canta-se em rituais de agradecimento e canta-se para invocar a proteção dos deuses. Canta-se para se preparar para a guerra e canta-se para glorificar o amor. O som musical desde tempos imemoriais, tem-se mostrado privilegiado recurso simbólico, e fonte inesgotável de prazer.
Prazer que há muito foi usurpado de nossas instituições educacionais. Não é raro encontrarmos discursos provindos de diversas esferas sociais, onde deparamo-nos com “escolares” que ainda não descobriram o prazer no ato de aprender.
Se naturalmente, a civilização humana utilizou-se da música enquanto instrumento de aprendizagem, porque devemos negar este processo à nossas crianças? É certo que a música tem adentrado, timidamente, as instituições escolares nos últimos tempos.
É preciso resgatar a cor, o movimento e o lúdico, se desejamos romper com este cenário tempestuoso no qual se encontra a Educação.


3 A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO INTEGRAL DA CRIANÇA

A música é uma linguagem universal, que ultrapassa as barreiras do tempo e do espaço, e a criança vive mergulhada num ambiente sonoro. Ainda bebê brinca com os sons, com o passar do tempo a música para ela vai se tornando cada vez mais educativa e informativa

3.1 A MÚSICA E O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO

Diversos estudos confirmam que a influência da música no desenvolvimento da criança é incontestável. Alguns deles demonstram que o bebê, ainda no útero da mãe, desenvolve reações estímulos sonoros.
Quando simplesmente ouvimos música com atenção, os estímulos cerebrais também são bastante intensos. A música possibilita uma diversidade de estímulos e seu caráter relaxante pode estimular a absorção de informações.
A prática da música seja pelo aprendizado de um instrumento ou pela apreciação ativa potencializa a aprendizagem cognitiva, particularmente no campo do raciocínio lógico, da memória, do espaço e do raciocínio abstrato.

3.1.1 O DESENVOLVIMENTO DA INTELIGÊNCIA HUMANA

Em A música e o desenvolvimento da mente no início da vida: investigação, fatos e mitos, Beatriz Ilari (UFPR), fala-nos sobre o “Efeito Mozart”, explicando que nos últimos anos, frases como “a música deixa o ser humano mais inteligente” ou “ela estuda música e por isso é muito boa de raciocínio” podem ser ouvidas em diversos ambientes – em conversas informais entre amigos, em círculos familiares, na televisão e até mesmo em contextos educacionais. Geralmente, quando estas frases são pronunciadas, há uma tendência natural em associarmos o aprendizado musical a atributos ou rendimentos em outras áreas do conhecimento. Um exemplo disso foi o chamado o ‘Efeito Mozart’, que causou (e ainda causa) segundo a autora, muita polêmica.
Há cerca de uma década, a disseminação prematura pela mídia dos resultados de uma investigação científica preliminar deu origem ao “Efeito Mozart”, nome atribuído a uma pequena melhoria em um teste de habilidades espaciais ocorrida logo após a audição de uma determinada obra musical de Mozart. Seus pesquisadores segundo a autora compararam a desempenho de ratos de laboratório e de estudantes universitários em condições sonoras variadas, como no silêncio e na presença de peças de Mozart e Phillip Glass, e concluíram que a audição da música de Mozart causava um progresso temporário nas habilidades espaciais de seus participantes. O “Efeito Mozart”, que hoje é marca registrada, deu origem a uma verdadeira febre de consumo da música de Mozart e de programas ‘mágicos’ de educação musical, que prometiam desenvolver bebês mais inteligentes e mais aptos a obterem um lugar em universidades famosas.
Houve muitas pessoas na área científica que tentou replicar a tese, uma das principais contestações da comunidade científica referiu-se ao equívoco dos defensores do efeito ao tomarem as habilidades espaciais como se elas fossem sinônimos da inteligência humana. Sabe-se hoje em dia que a inteligência humana é multifacetada e que as habilidades especiais constituem apenas parte do conjunto de habilidades que constituem a inteligência humana.

3.1.2 O RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO

A discussão acerca da existência de uma relação causal entre a música e a matemática é bastante antiga. A própria história da música fornece uma possível explicação para tamanho interesse nesta relação. Na Antiguidade, por exemplo, tanto a música quanto a matemática faziam parte dos conhecimentos dos indivíduos ilustrados e respeitados socialmente por suas capacidades intelectuais. Além disso, há muitas relações matemáticas contidas na própria estrutura musical, o que torna bastante próxima a relação entre as duas áreas. Cutietta (1996b) revisou a literatura sobre o assunto e concluiu que há alguma relação estreita entre a música e a matemática. Contudo, sua revisão de literatura não encontrou nenhuma relação causal entre a aprendizagem musical e as habilidades matemáticas. Em outras palavras, Cutietta não encontrou estudos que versassem sobre o aprendizado musical como elemento de ‘melhoria’ ou aperfeiçoamento das habilidades matemáticas. O que o pesquisador encontrou foram estudos em que os alunos que eram bons em música eram também bons alunos de matemática, e de outras disciplinas. Segundo a interpretação de Cutietta, é possível que não exista necessariamente uma relação causal sólida entre a música e a matemática, mas que os alunos matriculados em cursos e aulas de música sejam alunos mais aplicados que a média, sendo, portanto, bons alunos também na matemática. Considerando que os estudos revisados por Cutietta foram conduzidos principalmente na América do Norte e na Europa, onde há programas fortes de educação musical na escola, é preciso muita cautela na interpretação dos resultados das pesquisas acima mencionadas, bem como de seus métodos de investigação. Além disso, é importante considerar que, embora a música e a matemática tenham uma relação estreita, é preciso muito cuidado com as generalizações já que não há nenhuma garantia de que ao aprender uma disciplina o aluno terá sucesso na outra.

3.1.3 APRENDIZAGEM DA LINGUAGEM

Diversos estudos da neurociência sustentam o argumento de que a música e a linguagem são duas formas de comunicação humana através de sons que possuem tanto diferenças quanto semelhanças de processamento e de localização espacial no cérebro (veja Marin & Perry, 1999). Do ponto de vista da psicologia do desenvolvimento, há sugestões de que a música e a linguagem estão muito próximas e são igualmente importantes na infância (Trainor, 1996; Trevarthen, 2001). A fala dirigida aos bebês, por exemplo, possui muitas características musicais (Ilari, no prelo; Trainor, 1996), e alguns estudiosos chegaram a sugerir que a melodia é a mensagem principal que os bebês captam (Fernald, 1989). Além disso, a criança está atenta e responde igualmente ao contorno da fala e do canto dirigido a ela. A música e a linguagem, que freqüentemente se confundem no início da vida, tornam-se mais independentes no decorrer do desenvolvimento infantil e praticamente se dissociam quando as crianças aprendem a diferenciar o canto da fala.
Alguns estudos investigaram as relações causais entre o aprendizado da música e o aprendizado da linguagem. Cutietta (1996a) revisou a literatura e encontrou uma relação estreita entre o aprendizado das duas formas de comunicação humana por sons. Nos estudos revisados, os alunos musicalizados mostraram um desempenho superior ao de seus colegas não-musicalizados em tarefas de percepção e de articulação da fala. Além disso, sugere que há uma possível relação entre a aprendizagem musical e o aprendizado de línguas estrangeiras.


3.2  CONCENTRAÇÃO E O CONTROLE DOS MOVIMENTOS

Aí está mais uma das grandes vantagens da musicalização, as crianças são capazes de melhor concentração e controle de seus movimentos, pois ela logo percebe que se não tocar as notas na ordem correta, o som não será tão bonito quanto ela espera. Não só as notas devem seguir uma ordem pré-determinada, como os dedos devem estar firmes em posição específica. Essas exigências tornam-se capacidades, depois em habilidade e expandem-se à vida acadêmica, tornando a criança em um aluno mais disciplinado.


3.3  Desenvolvimento da manifestação artística e expressiva da criança

Assim como se utiliza da palavra ou gestos para manifestar suas ideias, terá como meio de expressão mais uma forte ferramenta na construção de seus argumentos - a música. As crianças tendem a pensar na música como sendo sobre "coisas", isto é, como contando histórias, expressando ideias, vivendo situações.
Há estudos sobre crianças autistas em que "estas crianças, extremamente perturbadas e que frequentemente evitam o contato interpessoal e talvez nem falem, possuem capacidades musicais incomuns. Isto talvez, porque houvessem escolhido a música como principal canal de expressão e comunicação, ou também porque a música é tão primariamente hereditária e que precisa de tão pouca estimulação externa quanto o falar ou andar de uma criança normal." Por exemplo, uma criança de 18 meses que cantava árias de ópera, embora só viesse a falar com 3 anos de idade; de 30 crianças autistas, apenas uma não mostrava interesse pela música.


3.4  Desenvolvimento do sentido estético e ético

Durante o processo de criação e depuração dos elementos musicais, ou mesmo no processo de expressão, busca-se aí o equilíbrio e a crítica sobre o conceito do belo, do pleno, do satisfatório. As campanhas de mídia pelas quais passamos nestes dias, trabalham muito fortemente sobre nosso poder de julgamento e decisão. Muitas vezes, esquecemos se algo é realmente bom, ou bonito ou dispensável. Simplesmente aceitamos. A criança tem sido um grande alvo da mídia e também sofre esta influência.
Através da música, com seus valores estéticos intrínsecos, e de atividades voltadas especialmente para o desenvolvimento do valor estético, pretende-se resgatar o sentido do belo e do justo em relação às coisas que nos rodeiam e também às nossas atitudes. O poder de escolha intermédia a busca da estética, e esta exteriorização são à base da ética.


3.5  Desenvolvimento da consciência social e coletiva/ética

Quando a criança canta, ou está envolvida com papéis de interpretação sonora em coletividade, sente-se integrada em um grupo e adquire a consciência de que seus componentes são igualmente importantes. Compreende a necessidade de cooperação frente aos outros, pois da conjunção de esforços dependerá o alcance do objetivo comum.
Quando estuda música em conjunto, torna-se mais comunicativa e convive o tempo inteiro com regras de socialização. Existe a possibilidade de respeitar o tempo e a vontade do outro, criticar de forma construtiva, ter disciplina, ouvir e interagir com o grupo.


3.6  Desenvolvimento da aptidão inventiva e criadora

A educação através das artes proporciona à criança a descoberta das linguagens sensitivas e do seu próprio potencial criativo, tornando-a mais capaz de criar, inventar e reinventar o mundo que a circunda.
E criatividade é essencial em todas as situações. Uma criança criativa raciocina melhor e inventa meios de resolver suas próprias dificuldades.
A criança se envolve integralmente com a música e a modifica constantemente, exercitando sua criatividade, e transformando-a pouco a pouco numa resposta estruturada de acordo com seus objetivos.
A criatividade é ilimitada no ser humano. Atualmente, com o crescimento tecnológico e a busca de soluções cada vez mais aprimoradas para os problemas vividos pelo homem atual, busca-se incansavelmente o desenvolvimento da imaginação humana, semente de toda a evolução.


3.7  Busca do equilíbrio emocional

Para os gregos, a educação musical aprimorava o caráter e tornava úteis os homens em palavras e ações, e os estudos de música começavam na infância e se estendia por toda a vida.
Também o jogo musical, que não se liga a interesses materiais ou competitivos, mas absorve a criança, estabelece limites próprios de tempo e espaço, cria a ordem e equilibra ritmo com harmonia.


3.8  Reconhecimento dos valores afetivos

Para Piaget, o afeto é o principal impulso motivador dos processos de desenvolvimento mental da criança e, para Celso Antunes, a afetividade pode ser construída através de estímulos adequados e medidos. Através da música e de seu processo de criação, torna-se aqui a criança o criador, o gerador, formando um eterno vínculo com sua produção ou autoria . "Fui eu quem fiz!" eles dizem com satisfação. Este é fator positivo para o desenvolvimento de sua autoestima e identificação de suas motivações.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A importância da musicalização infantil tanto em relação ao desenvolvimento cognitivo, social, afetivo, etc, vai muito além do que supunha anteriormente.
A música é exercício para a alma, é inspiração para crescermos saudáveis, e é essencial à formação de cidadãos mais humanizados e com uma inteligência emocional mais assentada nos valores do bem e da ética.
Concluiu-se quem a música está presente em todas as áreas do desenvolvimento humano desde antes do nascimento. E faz-se uma ferramenta muito útil no processo de ensino-aprendizagem, pois abrange todas as áreas do desenvolvimento humano.


REFERÊNCIAS

ABRAMOVICH,F. Quem educa quem?, 5ª ed. São Paulo; Summus, 1985

ABERASTURY,Arminda. A criança e seus jogos, Porto Alegre; Artes médicas, 1992


Revista eletrônica de musicologia, vol IX – Outubro de 2005. A música e o desenvolvimento da mente no início da vida: investigação, fatos e mitos, Beatriz Ilair (UFPR), disponível em: www.rem.ufpr.br/REMv9-1/ilari.html acesso em: 30/11/2009.


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